segunda-feira, 28 de março de 2011

Atividade em aula - 05 de abril (3º ano)

Texto A

[Os homens e os animais]

(...)É uma coisa bastante notável que não haja homens tão embrutecidos e tão estúpidos, sem excluir mesmo os insanos, que não sejam capazes de arranjar conjuntamente diversas palavras, e de compô-las num discurso pelo qual façam entender seus pensamentos; e que, ao contrário, não exista outro animal, por mais perfeito e bem concebido que possa ser, que faça o mesmo. E isso não se dá porque lhes faltem órgãos, pois verificamos que as pegas* e os papagaios podem proferir palavras assim como nós, e, todavia, não podem falar como nós, isto é, testemunhando que pensam o que dizem. Por outro lado, os homens que, tendo nascido surdos e mudos, são desprovidos dos órgãos que servem aos demais para falar, tanto ou mais que os animais, costumam inventar eles próprios alguns símbolos pelos quais se fazem entender por quem, estando comumente com eles, disponha de tempo para aprender a sua língua. E isso não demonstra apenas que os animais possuem menos razão do que os homens, mas que não a possuem absolutamente. Vemos que é preciso muito pouco para saber falar; e já que se nota desigualdade entre os animais de uma mesma espécie, assim como entre os homens, e que uns são mais fáceis de serem adestrados do que outros, não é crível que um macaco ou um papagaio, por mais perfeitos que fossem, em sua espécie, não igualassem uma criança das mais estúpidas ou pelo menos que tivesse cérebro perturbado, se a sua alma não fosse de uma natureza inteiramente diferente da nossa.
DESCARTES, René. Discurso do método. Brasília, Editora Universidade de Brasília; São Paulo, Ática, 1989, p. 76.

* Pega: uma espécie de ave.







Texto B

De repente, aparece a gente

(...) Se alguém tivesse tido esta tarde o bom humor de sair pelas ruas da cidade vestido com elmo, lança e cota de malha, o mais provável é que dormisse esta noite num manicômio ou numa delegacia de polícia. Porque não é uso, não é costume. Em compensação, se esse alguém faz o mesmo num dia de carnaval, é possível que lhe concedam o primeiro prêmio de mascarado. Por quê? Porque é uso, porque é costume mascarar-se nessas festas. De modo que uma ação tão humana, como é a de se vestir, não a realizamos por própria inspiração, mas nos vestimos de uma maneira e não de outra, simplesmente porque se usa. Ora, o usual, o costumeiro, fazemo-lo porque se faz. Mas, quem faz o que se faz? Ora!... A gente. Muito bem! E quem é a gente? Ora... Todos, ninguém determinado. Isso nos leva a reparar que uma enorme porção de nossas vidas se compõe de coisas que fazemos, não por gosto, nem inspiração, nem conta própria, mas simplesmente porque a gente as faz e, como o Estado, antes, a gente, agora, nos força a ações humanas que provêm dela e não de nós.
E mais ainda: comportamo-nos em nossa vida orientando-nos, nos pensamentos que temos, sobre o que as coisas são; mas se dermos um balanço dessas idéias ou opiniões, com as quais e das quais vivemos, acharemos com surpresa que muitas delas -- talvez a maioria -- não as pensamos nunca por nossa conta, com plena e responsável evidência de sua verdade; ao contrário, pensamo-las porque as ouvimos e dizemo-las porque se dizem. Eis aqui este estranho impessoal, o se, que agora aparece instalado dentro de nós, formando parte de nós, pensando ele idéias que nós simplesmente pronunciamos.
Muito bem. E então; quem diz o que se diz? Sem dúvida, cada um de nós; mas dizemos "o que dizemos" como o guarda nos impede o passo; dizemo-lo, não por conta própria, mas por conta desse sujeito impossível de capturar, indeterminado e irresponsável que é a gente, a sociedade, a coletividade. Na medida em que penso e falo -- não por própria e individual evidência, mas repetindo isso que se diz e que se opina -- minha vida deixa de ser minha, deixo de ser o personagem individualíssimo que sou, e atuo por conta da sociedade: sou um autômato social, estou socializado.
ORTEGA Y GASSET. O homem e a gente. Rio de Janeiro, Livro Ibero-Americano, 1960. p. 206-207.





Questões
1. Considerando o texto de leitura complementar de Descartes (texto A), resolva a seguinte questão:
Os papagaios podem falar palavras, mas não as compõem em discurso, como o homem. Explique.


2. A partir do texto de leitura complementar de Ortega y Gasset (texto B), responda:
a) O que o autor quer dizer quando se refere a "a gente" ou "se"?
b) A partir da expressão "Todos, ninguém determinado", o que perde o homem dominado pelo "se"?


Fonte: "Temas de Filosofia" - Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins

quarta-feira, 16 de março de 2011

Apresentação powerpoint - Adeus ao Real

Slides referentes ao texto "Pensamentos Mortais"
2º ano - 1º bimestre

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