sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Andrógino - Aurora Consurgens


Hoje na aula da turma 2013 trabalhamos o "mito da unidade originária", de Platão. No livro "Antologia Ilustrada de Filosofia" (Ubaldo Nicola) havia a figura acima, com a seguinte legenda: "O andrógino platônico, com quatro braços, quatro pernas e dois sexos, em uma imagem do século XVI"
O aluno Luan Moraes se mostrou interessado em entender a simbologia da imagem: por que o coelho, o morcego...?
Pesquisei um pouco e achei:
- esta imagem é proveniente do livro "Aurora Consurgens", "um manuscrito iluminado do século XV" (e não XVI), que "contém um tratado de alquimia medieval, no passado, às vezes, atribuído a Tomás de Aquino, atualmente a um escritor chamado de 'Pseudo-Aquino'. Excepcionalmente para um trabalho deste tipo, o manuscrito contém trinta e oito belas miniaturas feitas em aquarela" - uma delas, a imagem do andrógino que nos interessa...
- não achei quase nada sobre a simbologia da imagem, apenas a interpretação pessoal de um rapaz chamado Pedro Ortega. Traduzi o que ele escreveu e reproduzo aqui:

"Sempre me considerei um romântico, em minha juventude me inspirei em mitos e ideais – um deles foi o mito do Andrógino do 'Banquete', de Platão. Este mito fala sobre seres duplos que tentaram entrar no Olimpo; Zeus ficou furioso com a invasão e jogou um raio que dividiu estes seres em dois. Isso explica a idéia de que cada mulher teria um homem perfeito que seria sua outra metade. Uma questão importante é que para Platão o Andrógino poderia ser formado não apenas por uma parte fêmea e uma parte macho, mas também por duas partes macho ou duas partes fêmea*. Esta idéia daria legitimidade à homossexualidade, já na Grécia antiga, mas tal concepção infelizmente não se manteve.
O mito teria perdurado na Idade Média graças ao neoplatonismo, a filosofia da Grécia antiga mais próxima às idéias cristãs. Um dos maiores representantes da Igreja, São Tomás de Aquino, estava associado com a filosofia de Platão. Existe um tratado de Alquimia do século XV chamado Aurora Consurgens que foi muitas vezes relacionado à Tomás de Aquino, associação no entanto duvidosa. O Concílio de Trento censurou a primeira parte deste livro porque usou metáforas bíblicas, o que não era permitido em livros não-teológicos. A imagem reproduzida aqui no blog é proveniente deste tratado.
A imagem representa o momento no qual as duas metades, fêmea e macho, se encontraram e estão envolvidas no processo de unificação. Este milagre se dá graças ao Vento Sul, conforme mencionado nos textos da Aurora Consurgens. O Vento Sul é representado por esta águia grande e azul que ajuda as metades a se unirem.
A imagem é cheia de símbolos: o Andrógino está em cima de um monte de pássaros azuis (talvez corvos) e ambas as metades têm animais em uma mão: um morcego e um coelho. Eu acho que eles poderiam ser algum tipo de ingrediente alquímico para uma poção necessária para uni-los. Além disso, eles poderiam simbolizar o triunfo do Andrógino sobre as demais espécies."

* Diferentemente de Pedro Ortega, que coloca todos os seres sob a mesma classificação ("Andrógino") Ubaldo Nicola se refere aos seres do mito de Platão como “homens (seres humanos) esféricos”, que podiam ser de três gêneros sexuais: o masculino (metades: macho-macho), o feminino (metades: fêmea-fêmea) e o andrógino (metades: macho-fêmea).



Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aurora_Consurgens_%28livro%29
http://heresyandbeauty.wordpress.com/2010/02/08/androgyn-from-aurora-consurgens/

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